terça-feira, 15 de novembro de 2011

Estação do Livro 2011

No âmbito das atividades da ESTAÇÃO DO LIVRO  foram realizados, por diversos alunos, trabalhos (escrita criativa) dos quais se edita, hoje, um texto "A transformação" escrito, em contexto de sala de aula,  por um aluno do 9ºA.


A Transformação


Estava frio. Um frio que gelava todos os ossos que constituem o esqueleto.
Tinha acabado de subir para o meu quarto, após um grande serão com os meus pais em que tínhamos estado a debater como era a vida de um adulto, o que faziam, o que era obrigação e dever do próprio… enfim, uma questão infindável que nos entreteve durante longas horas.


Deitei-me na minha cama.
O frio era imenso e por isso, não me conseguia mexer. Bastava movimentar-me nem que fosse um milímetro do sítio em que me encontrava, que já não conseguia aquecer, por isso pus a meus pés um saco de água quente que de nada valeu. Fechei os olhos e adormeci, mas passados cinco minutos, acordei assarapantado.
Tinha-se formado uma trovoada tremenda, em que os trovões eram simplesmente ensurdecedores.
Tentei não pensar muito, mas o medo permanecia em mim desde aquele episódio em que o vizinho se esqueceu de desligar a decoração de natal e… não quero recordar novamente esse desastre.
Olhei para a janela e vi um clarão. Parecia que o céu se tinha aberto e o Sol incidia na janela!
Fiquei assustado e impulsivamente fechei os olhos, adormecendo novamente.
Acordei pela manhã e, quando levei a mão à cara para me coçar (este gesto faz parte da minha rotina matinal), senti a pele muito áspera e a picar muito.
Alarmado, sentei-me na cama e pus os pés no chão para me levantar. Verifico, ao olhar para a esquerda que a minha mesa-de-cabeceira, sem explicação, tinha encolhido.
Pensei logo que os meus pais estivessem a remodelar o meu quarto e por isso não me alarmei e segui para a casa de banho, liguei a luz e olho-me ao espelho.
Não conseguia acreditar no que via! Tinha-me, como se por magia, transformado num adulto! Tinha barba e media cerca de um metro e noventa.
Chamei pelos meus pais e ao fazê-lo notei que também a minha voz tinha mudado.
Como ninguém me respondeu, dirigi-me ao seu quarto e, não estando habituado a ver o mundo de tão alto, bati de cabeça contra uma parede.
Olhei para a cama deles e … nada. Puxei o lençol e aí apercebi-me de que os meus pais se tinham transformado em crianças que rondavam os nove, dez anos de idade.
Fiquei embasbacado! Como poderia uma coisa destas ter acontecido da noite para o dia?!
Apesar de ter ficado sem perceber, deparei-me com uma situação: eu tinha-me transformado no chefe da casa e, acima de tudo, tinha uma grande responsabilidade: a de cuidar dos meus pais como se de meus filhos se tratassem.
Abri o frigorífico. Não havia comida nenhuma e por isso dirigi-me ao supermercado, como qualquer adulto faria, mas ao efetuar o pagamento verifiquei que me sobrava pouquíssimo dinheiro.
Abri o correio e deparei-me com a conta do gás, da luz e da água. Não tinha dinheiro suficiente para pagar. Tinha que arranjar emprego e candidatei-me, logo, a operador de caixa. Esperei a resposta, mas não consegui o emprego, pois quando fui contactado, o responsável informou-me que com tão poucos estudos, até para varredor de ruas seria difícil. Fiquei estonteado.
Nos dias que se seguiram intensifiquei a minha procura para arranjar emprego, mas nada!
Apercebi-me, então, que a vida de um adulto não era fácil e que eu deveria ter aproveitado ao máximo a minha infância, não só para me divertir, enquanto as responsabilidades eram poucas, mas também para estudar para poder garantir um emprego estável e que proporcionasse uma vida calma e confortável do ponto de vista financeiro.
Cansado dos últimos dias, deitei-me e adormeci rapidamente.
Enquanto dormia sentia-me bem, pois não tinha de pensar nos problemas do dia-a-dia.
Certa noite, acordei com trovões que ecoavam por toda a casa. Apesar de ter crescido subitamente, o meu medo dos trovões ainda não tinha desaparecido, pelo que deixei o corpo escorregar para os pés da cama para me aconchegar mais, pois o frio apertava e tentei adormecer de novo.
De manhã, acordei com o suave chilrear dos pássaros. Levei a mão à cara para me coçar como era habitual e …
Nada. Isto é, a minha pele não era áspera e não picava. A barba tinha desaparecido. Levantei-me e olhei para a minha mesa-de-cabeceira; tinha outra vez o tamanho com que eu sempre a tinha visto.
Cheirou-me a waffles com um delicioso chocolate negro derretido no momento e despejado para cima do próprio; dirigi-me à cozinha. A minha mãe estava a preparar as deliciosas waffles a acompanhar com uma majestosa chávena de chocolate quente.
Aparentemente tudo tinha voltado ao normal, excepto uma coisa: a minha visão da vida adulta.
Mas o mistério continuaria por desvendar!

9ºA – F. Soares

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