terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O LIVRO


A carreira de Saramago tem sido acompanhada de diversas polémicas. As suas opiniões pessoais sobre religião ou sobre a luta internacional contra o terrorismo são discutidas e algumas resultam mesmo em acusações de diversos quadrantes. Caim, o seu último romance veio, mais uma vez, alimentar a polémica em relação a este escritor.
Este livro tem como personagens principais aquela figura bíblica, Deus e a Humanidade "nas suas diferentes expressões", segundo a descrição de Pilar del Río no blogue do Nobel da Literatura.
Neste novo romance, o vencedor do prémio Nobel, José Saramago, reconta episódios bíblicos do Velho Testamento sob o ponto de vista de Caim, que, depois de assassinar seu irmão, trava um incomum acordo com deus e parte numa jornada que o levará do jardim do Éden aos mais recônditos confins da criação.Se, em O Evangelho segundo Jesus Cristo, José Saramago nos deu a sua visão do Novo Testamento, neste Caim ele parte dos primeiros livros da Bíblia, do Éden ao dilúvio, imprimindo ao Antigo Testamento a música e o humor refinado que marcam a sua obra. Num itinerário heterodoxo, Saramago percorre cidades decadentes e estábulos, palácios de tiranos e campos de batalha. No trajecto, o leitor revisitará episódios bíblicos conhecidos, mas sob uma perspectiva inteiramente diferente. Para atravessar esse caminho árido, um deus às turras com a própria administração colocará Caim, assassino do irmão Abel e primogénito de Adão e Eva, num altivo jumento, e caberá à dupla encontrar o rumo entre as armadilhas do tempo que insistem em atraí-los. A Caim, que leva a marca do senhor na testa e portanto está protegido das iniquidades do homem, resta aceitar o destino amargo e compactuar com o criador, a quem não reserva o melhor dos julgamentos. Tal como o diabo de O Evangelho, o deus que o leitor encontra aqui não é o habitual dos sermões: ao reinventar o Antigo Testamento, Saramago recria também os seus principais protagonistas, conferindo-lhes uma roupagem ao mesmo tempo complexa e irónica, cujo tom de farsa da narrativa só faz por acentuar.