O interessante no livro O Mundo de Sofia não é apenas o que podemos alcançar ou aprender com a sua leitura mas antes, precisamente, a caminhada que fazemos com a própria Sofia. Esse percurso representa muito mais do que uma fantástica viagem pelo mundo da Filosofia.
O que pode ser, à partida, para os mais renitentes em entrar no domínio da Filosofia, um aspecto pouco entusiasmante é o que dá, creio eu, o verdadeiro fôlego a toda a história.
Como pode uma adolescente de apenas 14 anos “acordar” de um aparente sono em que a sua vida se tem desenrolado? Como podemos nós transpor este sentido para a nossa própria vida?
De facto, embora ela não o soubesse, nunca tivesse pensado nisso, bastaram duas simples questões recebidas em dois envelopes (sem remetente) na caixa de correio para toda a sua vida iniciar um novo rumo, diria mesmo, para recomeçar ou para se tornar uma vida pensada e consciente.
O que parecia tão claro para Sofia desde sempre, o que parecia tão óbvio foi precisamente o mote para todo o enredo.
“Quem és tu?” e “De onde vem o mundo?” foram as questões que iniciaram toda a trama que neste livro é contada. Mais tarde, Sofia também recebe um cartão-postal que deveria ser entregue a uma pessoa que ela nem conhecia e cujo nome era Hilde. Sofia apenas sabia que Hilde era filha de um Major do Líbano e que festejaria o seu aniversário na mesma data que ela.
À medida que a história se vai desenrolando Sofia percebe que o estranho Major sabe tudo sobre ela. Assim, recorrendo a estratégias de narração simples e atraentes, os leitores são levados pela mão de Sofia, através das explicações que o professor de Filosofia lhe dá, aos principais pensamentos filosóficos ocidentais.
Deste modo, a caminhada de Sofia é também a nossa (dos leitores) e, tal como ela, também nós nos tornamos cada vez mais próximos de Hilde e do seu pai e, ao mesmo tempo, mais conscientes de nós próprios e da nossa vida.
Partindo do quotidiano de Sofia, as suas lições de Filosofia são uma fonte inesgotável de conhecimento e de clarificação das mais célebres questões que atravessam o pensamento ocidental. Desde os filósofos pré-socráticos, passando por Sócrates, Platão e Aristóteles, a Idade Média, Galileu, Copérnico, Hobbes, Newton, Descartes, Espinosa, Freud, Kant, Hegel, Marx (entre muitos outros), terminando com a grande teoria mundial do Big Bang.
O grande dia para se perceber todo o enredo, à volta desta peculiar caminhada de Sofia e do seu mundo de fantasia, é o seu aniversário (que é também o de Hilde). Nesse dia, tal como prometido pelo Major, o presente de Sofia será o desvendar de todo o mistério.
Por opção minha nada direi desse desfecho porque gostaria que cada leitor o descobrisse por si. Esse foi, na minha opinião, o momento mais mágico de toda a leitura pelo seu carácter imprevisível.
Assim, deixo aqui a cada um a possibilidade de iniciar, agora mesmo, essa caminhada e ver como tudo termina para a Sofia. Estou certo de que assim que começar não conseguirá parar. Tal como aconteceu comigo. Boa leitura!
“Quem não sabe prestar contas/De três milénios/Permanece nas trevas ignorante,/e vive o dia que passa.” Johann Wolfgang Goethe
O professor de Filosofia
Vítor Maia
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